Crónica de distintos oureenses

Guia de leitura do Ourém blog destinado a celebrar a juventude de um grupo de oureenses e o espaço onde a mesma teve lugar

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Meio comuna, meio anarca, com hábitos burgueses. Totalmente confuso na selva capitalista...

sexta-feira, junho 25, 2004

Coisas do nosso tempo...

Enquanto houver dois homens, terá de haver opositores, visões diferentes, caminhos diferentes... e tantas, tantas diferenças e critérios, quantos os homens, afinal de contas.
E não vamos condenar nem pretos nem brancos, nem gregos nem troianos, já para respeitar direitos que todos têm, apenas sujeitos às normas duma ética justa, já para podermos admirar a policromia humana, cujos tons inspiram poetas e sonhadores.
Pois é verdade, «UM OURIENSE» admite ser apelidado de «sonhador dos castelos», e confessa que felizmente não é o castelo de Ourém, nem problema e muito menos o único problema deste concelho, como também admite e verifica com tristeza que não é com duas penadas que alguém se arvora em salvador ou mentor infalível dos destinos dum concelho.
Já sabemos que para os europeus os africanos são pretos e, vice-versa, para os africanos os europeus são brancos; mas também sabemos que cada um é o que é e tem valor no seu ser, relativo sim, mas real. Ambos vêem, ambos sentem, e ambos reagem a seu modo, mas validamente. Provincianos ou alfacinhas, serranos ou campesinos, todos têm direito a sentir, a amar e a sonhar. Uns sonham com castelos e outros fazem castelos no ar; uns sonham com as grandezas do passado e outros com as utopias do futuro.
Uma coisa, porém, é certa, em todos os tempos e hoje mais que nunca, e em todos os lugares sempre os homens, na impossibilidade talvez de ver o futuro, se voltam para o passado, admiram as suas obras e guardam ciosos os seus valores. Na sua ânsia de desvendar o passado percorreu-se séculos já vividos, recua-se em anos aos milhares e até aos milhões, revolve-se a terra, põem-se a descoberto ossadas, túmulos, grandes necrópoles, cidades e civilizações, joeiram-se poeiras, entulhos, enriquece-se a história e a ciência, e não vamos condenar tais iniciativas porque há doenças a tratar, caminhos a abrir, escolas a construir e crianças a educar, ou porque há correntes a enfrentar, ventos a soprar em rajadas ciclónicas ou em pachorrentas brisas, ou ainda porque há couves a plantar!
Não, caro amigo! Não! As pedras sagradas do nosso castelo de Ourém, as suas torres altaneiras e os seus pergaminhos da mais antiga nobreza, nem impedem a marcha ao progresso do nosso concelho, talvez pelo contrário a ajudem, nem tiram a importância aos problemas que afectam os nossos tempos, e nem os resolvem ou impedem a sua solução.
Que tem que ver o nosso desprezado e pacato castelo com o racismo dos Estados Unidos ou com os socialismos coloridos dos nossos dias? Ou, que relação e influência teria esse vetusto castelo, reparado ou par reparar, no fenómeno universal das migrações, na montagem dos grandes impérios comerciais ou industriais, ou no abandono dos campos que hoje se processa?
Apenas parece que o desprezo votado ao castelo de Ourém prefigura o abandono dos vastos campos que o rodeiam, desde o extremo norte da Freixianda ao fundo Sul da Serra de Aire.
Então a exploração da criança - digamos antes matança tão criminosa como generalizada e até legalizada em tantas paragens, ditas progressivas, do mundo, e a escravização da mulher - digamos antes destruição do seu destino e dos seus valores femininos que a própria natureza, pródiga como o seu Criador, lhe conferiu, - são problemas, são males que se remediariam, se o castelo de Ourém, não fosse restaurado?
Se é o caso, provem-no, que eu sou o primeiro a pegar na picareta e a desfazê-lo pela raiz, apesar de sonhar com castelos, cujas muralhas se situam na «antiga Vila».
Para tanto não são precisos «tiros nos miolos», pois o Castelo, pobre e velho, nem já miolos tem. Tiros, sim! Eles que venham para acordar e fazer surgir quem jaz na sombra da morte: o castelo e aqueles que o mataram ou não querem que ressuscite.
Se quem não ama permanece na morte, e a palavra é inspirada, parece que permanecem na morte os ourienses que não amam o seu castelo; por isso precisam de acordar. Tiros que acordem, é que são precisos. Que façam ressuscitar o que está sepultado há séculos e que enriqueceria o presente de hoje e o de amanhã. Esses que são precisos! Que venham.
UM OURIENSE