Crónica de distintos oureenses

Guia de leitura do Ourém blog destinado a celebrar a juventude de um grupo de oureenses e o espaço onde a mesma teve lugar

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Meio comuna, meio anarca, com hábitos burgueses. Totalmente confuso na selva capitalista...

sexta-feira, junho 25, 2004

O postigo da história

Escreve: Luís Vieira
Em artigo publicado no 'Noticias de Ourém' metemos no mesmo saco "historiadores", palradores e sonhadores. 'Ores" que pela intensa actividade exercida entendemos estarem a conduzir o povo Ouriense para uma condição de alienado em relação às determinantes reais da existência.
A reacção a este artigo não se fez esperar. Todas as posições que encontram eco na nossa sinceridade tendem a afirmar-se quando combatidas e eis os seus portadores, com maior ou menor razão, bramando contra o cretino que faz da História uma coisa a construir e não um altar a adorar.
Em artigo que enviámos ao "Notícias de Ourem" definimos a nossa posição em relação ao assunto. Não valerá a pena repetirmos o que então dissemos porque nada acrescentaria a matéria em discussão. Mas eis que surge em cena um novo ofendido, um homem cuja vida tem contribuído para "expurgar da história de Ourém, as lendas, as confusões e os erros de que está inquinada" e que considera o "Castelo dos Sondadores" como "discordante da análise histórica respeitante a Ourém" que costuma fazer.
Evidentemente, o "Castelo dos Sonhadores" nada tem a ver com os que honestamente procuram conhecer o passado da nossa terra, ele é apenas uma critica aos que choramingam o passado esquecendo os problemas presentes, tentando transformar Ourém numa monarquia de sonhadores. E uma estatística a artigos dessa natureza provaria que quase de quinze em quinze dias aparecia uma aberração dessas ocupando um jornal quase por inteiro numa extensa e enfadonha lengalenga que, se os mortos lessem, faria levantar o D. Afonso-quaIquer-coisa da cova para lhes dar o destino que merecem numa lixeira.
Ora, a História não tem culpa nenhuma em ser tão maltratada e é por isso que não a condenamos nem aos esforços que se façam para a conhecer. Desse modo, o que nos une a Alberto Pinheiro é bastante superior àquilo que nos separa. Os seus artigos permanecem imunes a critica que nós formulamos pois constituem um contributo válido para o domínio em causa. É evidente que nos estamos marimbando para que no tão falado e abandonado castelo tivesse vivido uma princesa Oureana, Pratiana ou lá como lhe quiserem chamar que era multo boazinha para o Zé. No entanto, já nos atrai saber que aquele Castelo foi dos mais importantes e cobiçados do Pais.
Importante porquê e cobiçado per quem?
Estas as interrogações que neste momento nos acodem e em certa medida podem abrir um capitulo das costumeiras paginas de História: na realidade, o Castelo de tão concreto que parece é uma abstracção. É-o enquanto se esquece aqueles que o tornaram possível, aqueles que na sociedade medieval estavam envolvidos em relações de servidão, cujo trabalho era sugado pelos nobres que habitaram o Castelo à custa de uma precária protecção, e sem cuja existência era impossível a de todos os demais.
Mas se o estudo dessas relações é importante, também o é o das condições que as levaram a modificar-se e tornaram possível a marcha da História até aos nossos dias com todos os dissabores que a humanidade conhece.
Por tudo isto, pela sua necessidade e oportunidade afirmamos que Alberto Pinheiro deve seguir o seu caminho, continuar atento no seu postigo.
Lisboa, 10 de Novembro de 1975.