Crónica de distintos oureenses

Guia de leitura do Ourém blog destinado a celebrar a juventude de um grupo de oureenses e o espaço onde a mesma teve lugar

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Meio comuna, meio anarca, com hábitos burgueses. Totalmente confuso na selva capitalista...

sábado, junho 26, 2004

Ourém, uma ferida

Tinha talvez os dezanove anos. Estava todo empenhado nas económicas e a saborear os primeiros textos subversivos quando a carta chegou:

Caro Luís, mudei de emprego. Quando voltares, deverás fazê-lo para Fátima. Alugámos lá uma casa…

Ao princípio não me apercebi das consequências, mas ao fim de algum tempo, a ferida abriu.
Ourém já não era estar, Ourém era apenas passar.
Deixei de ver a malta amiga sempre que havia férias. Deixou de haver noitadas, bailaricos em garagens e em sótãos bem revestidos. Para mim ficou provada aquela ideia: quem desaparece, esquece.
Aos poucos deixei de aparecer. Umas vezes não os encontrava, outras já não podia ficar mais, a última camioneta era às dez para as sete. Um dia, levei o Anti-Dühring para o Avenida e alguém me diz:
- andas a ler essas m...? Também és desses?
Outro dia, soube da morte do primeiro dos que já partiram….
Fechei-me em Fátima. Não fiz outros amigos. Como? Se aqueles os conhecia quase desde que tinham nascido?
Ler, ler, ler, escrever também um pouco. É que havia aquela sensação de que algo tinha ficado por dizer, e múltiplas coisas por fazer…