Crónica de distintos oureenses

Guia de leitura do Ourém blog destinado a celebrar a juventude de um grupo de oureenses e o espaço onde a mesma teve lugar

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Meio comuna, meio anarca, com hábitos burgueses. Totalmente confuso na selva capitalista...

sexta-feira, junho 25, 2004

Capítulo II - Alguns aspectos da minha relação com a imprensa de Ourém

Vamos até Ourém nos anos de 1972 a 1975.
Como relatei, estava afastado da terra já há alguns anos, mas havia a necessidade de dizer algo. Alguns artigos na imprensa oureense da época deram a ideia inicial. É que nisto de escrever o mais difícil é começar, há sempre o receio de que os outros podem não achar bem.
Regularmente publicava-se um “Figuras da nossa terra”. Baseando-me nessa ideia avancei com um “Figuras de todo o mundo” que, isso foi bem claro para mim, teve algum sucesso, parte do qual foi testemunhado em números seguintes do jornal que também publicou a minha reacção.

Figuras de todo o Mundo

A juventude do silêncio

Exaltar a humildade? Para conservar os humildes servos

Vegetar

Eu, marxista me confesso
Lá para 14 de Julho, talvez de 1972 (ou 1973?) enviei mais uma provocaçãozinha para o Notícias de Ourém: um artigo condenando as sociedades baseadas na exploração do trabalhador e convidando à participação na construção de uma sociedade em que todos participassem na decisão e no trabalho.
Houve quem não gostasse e reagisse. Aqui vai a história toda.

A lenda do imperador lucro

O Queixinhas

Bota abaixo, bota acima, de D.Gastão a sua rima

A vaidade dos intelectuais
O "Ourém e seu Concelho" também sofreu o ataque do sábio LV cada vez mais detentor da verdade absoluta, com a arrogância que a quase licenciatura lhe dava. São disto exemplo títulos como a “Contribuição para a História do país que eu conheço”, “a cidade”, “o campo” que, no fundo, limitavam-se a explorar jargões e contradições da época numa tentativa não muito bem sucedida de aplicação a Ourém.

Contribuição para a História do país que eu conheço

A cidade

O campo

Visado pela Comissão de Censura
Alguns artigos destinados ao Notícias de Ourém e ao Ourém e seu Concelho tiveram problemas com a censura. Aqui reproduzimos alguns dos que terão contribuído mais para as dificuldades dos que planeavam esses jornais.
O primeiro deles, A verdade da Ciência, é uma descrição de transformações ocorridas no meio universitário em finais dos anos sessenta início de setenta. Estou ainda a ver o Eduardo Graça a levantar-se no meio de uma sala cheia de estudantes atentos e a interpelar o sábio de momento. Recordo a luta imensa do Félix Ribeiro, do Ferro Rodrigues e de outros cujos nomes o esquecimento já levou para a transformação do ensino em Económicas numa altura em que era frequentemente visitada pelas forças da repressão.
A Faca e o Bolo é o modo como mais gosto de analisar a inflação: uma luta entre dois grupos sociais para se apossarem de uma fatia maior de um produto real que só pode pode aumentar pelo trabalho e não pela expressão monetária. Este artigo foi mesmo cortado pela comissão de censura vindo a ser publicado no Notícias de Ourém pouco depois do 25 de Abril.
Também escrevi algo sobre a situação política internacional, onde o socialismo, a ameaça de guerra nuclear e outros temas ofereciam perspectivas de reflexão. Uma das que me impressionou mais foi o exemplo do Chile. Apesar de não acreditar muito no socialismo em liberdade, tinha a secreta esperança… Tudo se veio a desmoronar com o canalha do Pinochet. Agora estou convencido que não podemos enveredar por este tipo de processos sem que exista um grande enriquecimento cultural entre as massas populares: provou-o o Chile, provou-o Portugal onde felizmente o contragolpe não foi tão violento. E depois de tudo aquilo, como me custou, quando estava na tropa e comentava o acontecido com o mancebo Amorim, algum tempo depois um militante trotskista, ouvir da boca dele: o que se passou no Chile foi uma miserável traição…
Termino com um artigo que nem viu a luz do dia em qualquer dos jornais da terra. Já não me lembro porquê. Também já não recordo os fundamentos do artigo embora reveja nele as paredes de Mafra e o magnífico retorno da semana de campo quando estávamos na EPAM e o 25 de Abril se avizinhava. Eu cantava, o Boisano dava o tom, o Sílvio era o político que sabia de tudo, estava também lá o Reis do futuro PS, o grande amigo Albino…

A verdade da ciência

A faca e o bolo

Mururoa

Os dissuasores

A morte de Salvador Allende

Olhos postos no Chile

A vi(o)la da loucura

As redacções da Guidinha
Por aquela altura, tornaram-se célebres textos sem pontuação, publicados no Diário de Lisboa e conhecidos como redacções da Guidinha. Já não me lembro o que me deu para reproduzir a ideia no «Notícias de Ourém» e no «Ourém e seu Concelho». O certo é que bombardeei os leitores com alguns textos do mesmo género, que reflectiam algumas das minhas preocupações do momento, mas que, confesso, agora tenho alguma dificuldade em justificar.
Também é de acreditar que o facto de estar a cumprir serviço militar me tivesse criado a necessidade de tudo ser mais obscuro. Aliás, um dos textos, «Os Abutres» é um relato da instrução militar que fazia em Mafra e das paragens para descanso e "matar o bicho" que nos eram concedidas.
Confesso que tive um serviço militar que se pode considerar uma maravilha. Na instrução, com imenso receio, tive a sorte de calhar com um instrutor bem formado detentor de grande respeito por todos os elementos do pelotão. Na especialidade, mais tranquilo, começámos a sentir os cheirinhos que a revolução do 25 de Abril nos enviava: tal ocorreu na semana de campo e em muitos contactos com colegas e militares mais graduados. Depois, foi o magnífico período da revolução onde tive a sorte de participar e de viver praticamente até ao famigerado 25 de Novembro que transformou a revolução popular em revolução democrática, isto é, em algo, que dando alguma voz aos explorados e oprimidos, permitia a sua exploração pela classe detentora dos meios de produção.
Se "Os Abutres" é o caso mais explícito, para os outros textos não consigo mesmo qualquer justificação, sendo que num deles existe uma referência a avisos que lia no Notícias de Ourém quando algum texto era mais forte, «Cuidado com o fogo», e outro é uma recordação dos vendedores da banha da cobra na feira nova que se realizava no largo da feira do mês, junto à casa do Sr. Manuel Raul, pai do Cúrdia, em tempos de meninice…

O charlatão da feira nova

O encontro

Queda no abismo

Os abutres

Um verdadeiro tiro no pé…
Foi o que me aconteceu com a história do Castelo dos Sonhadores. Afinal eu até gostava do castelo (vivi numa casa parecida com um castelinho à entrada da rua de Castela) e achava um piadão à terra ali entalada entre o castelo e os moinhos. Mas as lamúrias constantes nos jornais da terra irritavam-me solenemente. Então, um ente superior como eu,um marxista-leninista dos puros, tolerava aquelas coisas execráveis????.
É claro que levei tareia até dizer chega. Aos poucos tentei recuperar e a bondade dos meus adversários que viram nas minhas palavras a irreverência da juventude ou sonhos utópicos permitiu-me sair da crise. Mas o Postigo de Alberto Pinheiro não merecia ser tão maltratado como eu o fiz e, afinal,o UM OURIENSE até tinha alguma razão.
Aqui fica a história quase toda. Já não sei é como começou…

O castelo dos sonhadores

O meu postigo

Coisas do nosso tempo...

O postigo da história

Finalmente, este grupo de artigos termina com uma referência ao modo como abordei o 25 de Abril nos dois jornais de Ourém.
A partir dessa data grande parte da minha produção foi excessivamente afectada pelo sectarismo reinante pelo que não descortino o menor interesse na sua recordação e publicação.